A ideia de consumir este shake imediatamente após o treino tem o objetivo de aproveitar a “janela anabólica” e abastecer o corpo com nutrientes importantes que são necessários após um treino pesado, com o bônus da recuperação do glicogênio perdido e a criação de um pico de insulina que paralizará o catabolismo ao jogar os nutrientes de forma mais rápida dentro dos músculos.
Apesar desta estratégia ter ótimas intenções, a urgência e necessidade do shake pós-treino são demasiadamente exagerados. Entenda o porquê:
“Aproveitar a janela anabólica”
Se você for parar para pensar, a ideia de que você precisa tomar proteína dentro de 45 minutos a 1 hora para aproveitar a “janela anabólica”, é muito extrema mesmo a primeira vista. É como se o corpo de todos, independente da individualidade e genética, tivessem um cronometro anabólico imbutido que se ultrapassado o limite de uma hora, vai fazer você entrar em catabolismo. Meio forçado, não?É o que a ciência acha também, e em um estudo realizado pela American Society for Nutrition (1) foi descoberto que a capacidade de absorver proteína é aumentada em até 24 horas após o treino (e não apenas uma hora), algo que faz sentido já que o músculo vai levar muito mais tempo para se recuperar, e consequentemente vai precisar de nutrientes durante este período.
“O corpo está clamando por nutrientes no pós-treino”
Muitas pessoas pensam que o pós-treino é o momento mais crítico do dia para se alimentar, já que o corpo estará clamando por nutrientes que foram perdidos durante o treino e em conjunto com a janela anabólica, uma refeição neste horário vai colocar o corpo em “modo anabólico”.Seria ótimo se apenas uma refeição no dia fosse tão crítica a ponto de mudar seus resultados, mas as coisas não são tão simples assim. A sua dieta como um todo (quantas calorias e nutrientes são ingeridos durante o dia todo) será muito mais importante para o anabolismo do que a refeição pós-treino sozinha, e se for para escolher um horário crítico para se alimentar, pesquisas (2) sugerem que a refeição pré-treino tem muito mais impacto na recuperação do que a refeição realizada no pós.
“Recuperar o glicogênio perdido durante o treino”
Sim, atividades físicas de alto rendimento consomem glicogênio que precisa ser reposto com a ingestão de carboidratos. Contudo, a quantidade de glicogênio perdido em treinos de musculação é extremamente superestimada. Por mais que o seu treino seja pesado, não será possível perder tanto glicogênio em cerca de 1 hora de treino a ponto de atrapalhar sua recuperação, e se você se alimentou bem antes de treinar, o “risco” é menor ainda. Na pior das hipóteses, se você treinou sem ingerir carboidratos e só conseguiu comer horas depois do treino, o seu corpo ainda vai conseguir recuperar o glicogênio perdido dentro de 24 horas e manter tudo em ordem (3).“Gerar um pico de insulina”
A estratégia ao gerar um pico de insulina é fazer com que os nutrientes sejam absorvidos rapidamente dentro dos músculos, e que para isto seja feito é necessário a ingestão de uma dose de açúcar simples.Enquanto a insulina realmente “mostra o caminho” para os nutrientes, estudos (4) mostram que a insulina tem um papel “permissivo” e não “estimulatório”, ou seja, o objetivo deve ser apenas fazer com que ela esteja presente para ter o resultado esperado, e não tentar estimular ela através de quantidades cavalares de açúcar (Tradução: estimular mais insulina, nem sempre significa que os nutrientes serão absorvidos de forma mais rápida).
O que podemos aprender com estas informações?
- Não existe refeição ou suplemento obrigatório que deve ser ingerido imediatamente após o treino.
- Estas informações não anulam a necessidade de comer algo após o treino, apenas mostram que o foco exclusivo no pós-treino não vai ser algo que vá mudar os seus resultados da água para o vinho.
- A dieta como um todo é e sempre será mais importante para os seus resultados.
- Se você usa e gosta do shake pós-treino, não há razão para suspender o uso. O intuito é apenas mostrar que isto não é um dogma ou requerimento obrigatório